segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Colômbia: Cartagena de Indias e Bogotá - 05 a 17 de junho de 2007.

INTRODUÇÃO

Há muitos anos atrás, estava eu hospedada no movimentado Albergue da Juventude de Buenos Aires, local onde há uma grande interação entre viajantes de todas as partes do mundo, com ampla troca de experiências e informações de viagens. Ao conversar com um sueco, que acabava de chegar da Bolívia e da Colômbia, em estado de encantamento com o que havia visto nesses dois países, ele me sugeriu que eu devesse conhecer esses lugares, então argumentei que se tratava de países violentos e perigosos, e que eu tinha medo de me arriscar, então ele me disse que violento e perigoso era o Brasil, e que eu não poderia ficar sem conhecer locais tão impressionantes por medo. Essa fala me tocou profundamente e me fez pensar. Em seguida, ele me mostrou um livro ilustrado, sobre a mais bela cidade que já havia conhecido, que ficava na Colômbia. Peguei o livro e comecei folhear, realmente a beleza era algo impressionante, e aquelas imagens me impactaram tanto, que ali mesmo, decidi que um dia iria conhecer aquele local – era Cartagena de Indias. Depois disso, fiz diversos outros roteiros pela América do Sul, mas sempre quando começava o planejamento, me vinham na lembrança as palavras do sueco e as imagens de Cartagena de Indias, que carregaria em minha memória para sempre. A Bolívia, a partir de então, se torna uma decisão tomada, era só uma questão de achar as companhias certas, mas a Colômbia, ainda permanecia na minha lista de países sonhados, mas proibidos. Em 1998, quando conheci a Bolívia, me apaixonei pelo país e todos os meus preconceitos caíram por terra, o que permitiu que já começasse a desenhar na minha cabeça, uma remota possibilidade de encontrar uma saída segura, para enfrentar o medo dos cartéis e das FARC. Enquanto isso, volta e meia, acompanhava noticiários com reportagens sobre seqüestros na Colômbia, que exibiam cenas da selva, onde se mantinham os cativos, e lá no fundo eu pensava, mas não falava: pelo menos eles estão num lugar lindo! Em 2005, o Dalton Maziero, meu grande amigo, mestre na arte de viajar, um expedicionário e profundo conhecedor da cultura latino-americana, me relatou uma expedição de sucesso que realizou na Colômbia, entrando no território controlado pelas FARC, caminhando por dias na selva, com proteção militar, para chegar às ruínas da “Ciudad Perdida”, e que na ocasião, também teria conhecido Bogotá e Cartagena de Indias, duas imperdíveis cidades. Em princípio, achei-o um louco, mas com o tempo, esta aventureira que existe dentro de mim tornou, mais uma vez, o Dalton e suas experiências, uma referência a ser seguida. E assim, de 2005 para cá, fui amadurecendo bastante a idéia de ir à Colômbia, as companhias poderiam ser as de sempre, aquelas das viagens anteriores, pessoas sensíveis e apaixonadas pela surpreendente América do Sul, faltava só convencer a alguma delas e fazer um roteiro. Em março de 2007, eu e Salete, companheiras de viagem há 20 anos e colegas de trabalho, nos deparamos com um crédito em nosso salário, que não esperávamos naquele momento, então eu, brincando, disse: esse dinheiro dá para ir para Cartagena, e ela, imediatamente me respondeu: - Então vamos! Sorri e comentei que teria apenas 3 meses para fazer todo o planejamento, mas que o faria mesmo assim. Então, estava decidida a nossa viagem para junho daquele ano.

O próximo passo, foi começar minha maratona de pesquisas, leituras complementares e contatos. Inicialmente, por segurança, optamos por procurar um pacote turístico, mas nenhum nos agradava, porque somos muito independentes para viajar. Daí, Salete argumentou que deveríamos ir por nossa conta, com a cara e a coragem, pois nossa experiência, aliada ao meu planejamento minucioso, nos dariam todos os subsídios necessários para termos sucesso em nosso propósito, e que não havia violência que pudesse assustar duas brasileiras viajadas e espertas. Naquele momento, me convenci que era a melhor opção, uma vez que vinha mantendo contato, através da internet, com várias pessoas que moravam na Colômbia, ou que tinham acabado de voltar de lá, e todas eram unânimes em reiterar as atuais condições de segurança daquele país, que oferecia muito menos riscos que o Brasil. Além do que, uma vaga idéia de perigo dava um tempero especial à aventura e nos estimulava ainda mais.

O projeto assume um sabor muito especial para nós duas, pois a longa trajetória de viagens que construímos juntas nos trazia, naquele momento, um repertório de lembranças e experiências pela América do sul, e neste contexto, a Colômbia sinalizava ser uma síntese de tudo. Além do que, estávamos as duas sedentas por uma pausa em nossas atribuladas realidades. Desde o início, apesar da escassez de informações sobre o país, fui desenvolvendo o planejamento de forma surpreendente, e o roteiro final foi impecavelmente fechado a quatro mãos. Priorizei o aspecto cultural e optei por Cartagena de Indias e Bogotá, cidades com patrimônio reconhecido e que ofereciam além da riqueza arquitetônica, incontáveis museus com acervos extremamente representativos, além de oferecerem um pouco de natureza e belezas naturais, principalmente na região do Caribe.

Algumas pessoas foram fundamentais para o sucesso de nossa viagem: o Dalton Maziero, com o seu estímulo, suas detalhadas e preciosas informações sobre os locais que visitaríamos e com o seu “site” de arqueologia americana que me inseriu de forma definitiva no contexto colombiano; os amigos internautas, alguns colombianos, outros brasileiros, morando na Colômbia ou não, mas todos indiscutivelmente, donos de um coração colombiano - característica que também eu possuo hoje - o Jorge Medeiros, o Ten. Marcos, o Pedro Boeira, a Matilde Pinto, a Michela Amaral, a Edilania Loula, a Amanda Lima e o Rafael Fernandes foram incansáveis e precisos em suas dicas e informações sobre o país; e aquelas pessoas que desde o início acreditaram em nosso sonho e nos deram força em todo o processo, especialmente a Carina Martins e a Ângela Camargo, ajudando a neutralizar a energia de um sem número de pessoas, que do alto de seu preconceito, não entendiam o que poderia ter de interessante na Colômbia, e nos fuzilavam de perguntas desafiadoras e comentários desanimadores, apesar disso nunca ter abalado as minhas convicções e a minha determinação.

A nossa viagem durou treze dias, alguns dos quais, como reféns de aeroportos e companhias aéreas, mas foram momentos que nos possibilitaram ótimos contatos com colombianos e brasileiros residentes na Colômbia, que em nossas horas de espera e durante os vôos, nos deram muitas informações sobre o país. Lá cumprimos na íntegra o nosso abrangente e minucioso roteiro, e ainda sobrou tempo para incluir mais algumas atrações. Chegávamos a andar até doze horas por dia, ficando até quinze horas fora do hotel, somando-se a isso o tempo gasto com cuidados pessoais, organização de bagagem, planejamento para o dia seguinte, internet, redação do diário de bordo e conversas bem humoradas sobre o nosso dia. Dá para ter uma idéia das míseras horas que sobravam para o sono... Ainda assim, saí do país com a mente descansada, com a sensação de que gostaria de ficar muitos dias mais e que todo o tempo do mundo seria pouco para conhecer o que ainda faltava e para desfrutar da hospitalidade dos colombianos. Quando cheguei ao Brasil, tive que passar por um período de readaptação à minha rotina, pois fiquei tão absolutamente sintonizada com a Colômbia, que foi difícil me desligar e conscientizar que o sonho tinha dia para acabar.

Viajar pela América do Sul é muito mais do que conhecer as suas indescritíveis e belas paisagens, suas culturas exóticas, sua diversidade cultural ou ainda suas grandes capitais, com indiscutível influência deixada pelos europeus, a partir de sua equivocada ocupação dessas terras. Mas é ter a oportunidade de mergulhar em um continente ímpar, um lugar extraordinário e promissor, que mantém a sua identidade cultural assim como também acolhe e assimila harmonicamente, a cultura dos migrantes de todos os cantos do planeta, e isso não é por acaso, pois certamente daqui, sairão as soluções para o resto do mundo, num futuro talvez mais próximo do que imaginamos. Conhecer a América do Sul é mergulhar em suas entranhas e entender a nossa imensa responsabilidade, saber olhar para os séculos de dominação, conseguir enxergar o tamanho do estrago e o quanto esse processo doloroso nos fará capazes de renascer das próprias cinzas, entender que seus povos devem se unir em torno de uma grande missão, mas não derrubando fronteiras ou assimilando uma ideologia de globalização e sim, unindo suas forças, fazendo valer suas riquezas, compartilhando os seus conhecimentos e potencialidades, criando mecanismos de defesa contra a exploração, buscando soluções para as suas fragilidades, se solidarizando e criando uma mentalidade de respeito mútuo entre suas culturas, sempre mantendo as especificidades de cada região e a diversidade característica do continente, que é um dos componentes da nossa riqueza.

Infelizmente, os brasileiros em sua maioria, ainda estão muito aquém de nossos irmãos latinos nesse processo de conscientização, ainda direcionam o seu olhar para os países ditos desenvolvidos e dão as costas para a América do Sul, presumindo uma superioridade que na verdade não têm e, sentados em seu sofá, assimilam as informações tendenciosas da mídia, assumindo uma visão distorcida desta América, que não por acaso, dela fazem parte. Com isso, perdem a oportunidade de conhecer a riqueza que está bem próxima e de se conhecer melhor para, a partir disso, modificar sua própria realidade.

"América Latina sigue siendo uno de los pocos lugares de la tierra que todavía pueden transformarse en mito." Fernando Botero (Pintor e escultor colombiano)

Juiz de Fora, agosto de 2007.

DIAS 05 E 06 DE JUNHO de 2007

JUIZ DE FORA/RIO DE JANEIRO/CAMPINAS/SÃO PAULO/

MANAUS/BOGOTÁ/CARTAGENA DE INDIAS (Ufa!)

Saímos de Juiz de Fora de ônibus, às 17:00 h, chegando ao Rio de Janeiro às 20:00 h, com um pouco de medo de passar pela Linha Vermelha à noite. Em uma semana de tantos conflitos nessa via, sem sombra de dúvidas, me assustava muito mais a Linha Vermelha do que Bogotá! Da rodoviária, pegamos um rádio-taxi, que chegou ao Galeão em 10 minutos. Haveria pela frente uma madrugada de espera pelo nosso vôo, mas passamos uma noite tranqüila, em bom ambiente, com muitas pessoas de bom nível, dormindo como nós, em uma extremidade mais discreta do aeroporto. Acabou que uns tomaram conta dos outros por toda noite, pois sempre ficou alguém acordado. Até que passou rápido e sem sacrifício, uma vez que fico bem sem dormir, pois para quem gosta de pensar na vida, momentos assim, acabam sendo uma boa oportunidade, mas o maior desconforto ainda estaria por vir. Às 03:30 h, fizemos o “chek-in” e embarcamos pontualmente às 05:30 h, pela Oceanair, com destino a São Paulo. De repente, comecei achar que estava meio demorado para chegar, quando a Salete, que estava na janela, falou que estávamos passando pelo mesmo lugar várias vezes, posso imaginar o tamanho dos meus olhos naquele momento, me movi um pouco, olhei pela janela e confirmei que estávamos andando em círculo, e naquela altura, o tempo já havia extrapolado o de uma ponte aérea normal. Em alguns minutos, fomos avisados que não tinha teto em Guarulhos e fomos para Campinas. Lá permanecemos dentro do avião por muito tempo e depois descemos, aí começaram horas de desinformação e tensão, porque perderíamos a nossa conexão para Bogotá. Dito e feito, só bem mais tarde, fomos para São Paulo, e lá realocadas em um vôo da Varig para Bogotá, às 14:30 h, mas esse, com escala em Manaus, o que certamente nos faria perder a nossa próxima conexão para Cartagena. Mais uma vez, nosso medo se confirmou e perdemos a conexão, nos vimos no aeroporto de Bogotá às 18:00 h (20:00 h no Brasil), sem a mínima boa vontade da Avianca em resolver nosso problema. Salete começou a se exaltar e eu ainda calma, tentei argumentar com o atendente da companhia, a nossa situação, com a ajuda de dois brasileiros, que estavam no mesmo problema, mas a caminho do Equador, fizemos um bom coro. Com muito custo, ele nos indicou outra pessoa para conversar, que prontamente resolveu o nosso problema e nos colocou em um vôo, que saía naquele exato momento, em outro aeroporto ao lado. Foi uma correria louca, deles, para fazerem nossas malas chegarem ao avião e nossa, para mudar de aeroporto, mas deu tudo certo, e às 20:30 h partimos para nosso destino, chegando lá às 00:30 h (02:30 h no Brasil). Ou seja, uma maratona extremamente cansativa e tensa, fiquei acordada quase 48 horas, viajando por 30 horas, entre ônibus, aeroportos e aviões, com cinco decolagens em um único dia. Haja resistência! Mas como sempre, deu tudo certo e foi um dia de muitas experiências. Valeu a pena, apesar do cansaço, chegamos na Colômbia! Perdemos apenas 12 h no nosso roteiro, poderia ter sido pior...

Sobrevoar a Amazônia, em Manaus, foi muito bonito, pude ver bem de perto o Rio Negro e o Solimões, além da floresta. Vista de cima, Manaus parece ser linda, me deu até vontade de conhecer. O que mais me impressionou, não foi a mata, e sim a abundância e traçado dos rios, é muita água! Magnífico!

No vôo, ficamos conhecendo o Nelson, colombiano, analista de sistemas, já morou no Brasil e falando português correntemente. Durante toda a viagem, nos deu boas dicas sobre Bogotá, a sua cidade.

Chegamos à noite em Cartagena, e me pareceu uma cidade maravilhosa! Talvez a cidade mais bonita que já vi. Vamos ver amanhã! Aqui é muito quente, parece que estamos em uma sauna, mas ainda assim, a primeira impressão foi ótima. Seguimos para o hotel “3 Banderas”, indicação do “Guia do viajante independente”, caro e não tinha vaga para todos os dias, só para aquela noite. Salete quis ficar porque estávamos muito cansadas, mas achei que não era a melhor solução, pois acabaríamos perdendo ainda mais tempo procurando e mudando de hotel no outro dia. Daí, lembrei da dica de um hotel, que um amigo internauta, o Jorge Medeiros, havia me dado e pedi ao atendente que ligasse para saber se havia vaga, resposta positiva. Seguimos para lá, se chama “Hotel da Pietro”, bem simpático e confortável, fica em “Bocagrande”, um bairro com infra-estrutura hoteleira e turística, este está no preço que planejei e o atendimento é muito bom. Gostei!

Em um primeiro momento, a Colômbia parece um país muito interessante e calmo. As pessoas são muito amáveis, com um tipo físico miscigenado e bonito, mas não se vêem índios por aqui.

07 DE JUNHO – CARTAGENA DE INDIAS

O hotel é muito aconchegante, organizado, não tem luxo, mas o conforto é na medida certa, o apartamento é grande e limpo, e tem o que é mais importante por aqui, um potente e silencioso ar condicionado, porque o calor nessa cidade é algo inexplicável. O gosto da decoração é duvidoso, mas o serviço é eficiente e cortês, o café da manhã é bom e num lugar interessante, ao ar livre, com árvores e animais exóticos soltos, como araras e papagaios que conversam o tempo todo. O preço é bom para a realidade de Cartagena, pois tudo aqui é muito caro, principalmente por estar localizado em um elegante bairro hoteleiro, com bons restaurantes, noite animada, comércio refinado e praia, que não achei bonita, mas está dentro dos padrões daqui.

Hoje acordamos um pouco mais tarde, em função do cansaço, e conseguimos sair só ali pelas 10:00 h. Pegamos um ônibus e fomos para o centro histórico – a “ciudad amuralhada”. A impressão que tive ontem à noite, não foi equivocada, a cidade é realmente linda, são mais de cinqüenta quarteirões, dos séculos XVI e XVII, construções em estilo espanhol, que têm como maior característica as sacadas e balcões de madeira, além das cores fortes e tudo muito, mas muito bem cuidado, limpo e organizado. É uma arquitetura ímpar, o conjunto impressiona pela beleza, pela riqueza histórica, pela extensão e principalmente pelo fato de estar emoldurado por mais de 11 km de imponentes e sólidas muralhas, o que dá um charme muito especial. É uma cidade encantadora!

Cartagena, patrimônio da humanidade tombada pela UNESCO, com uma população de 750 mil habitantes, tem um centro histórico muito movimentado por pessoas do local mesmo, tem turistas, mas não demais. Cidade portuária, foi sede da inquisição, e desde a sua fundação, local de embarque de todas as riquezas da nossa América rumo à Europa, motivo pelo qual, ter sido alvo de piratas e de vários países interessados em sua situação privilegiada. Todo esse contexto, determinou a sua maior característica – ser uma rica cidade fortificada, com um belo conjunto de fortes complementando as muralhas. E assim ela consegue se manter protegida de todos os ataques ao longo de sua história, e chega aos nossos dias, deixando a impenetrabilidade no passado, transformando todo o aparato defensivo em um convite para desvendar o seu passado e se deixar seduzir pelas suas formas, cores, sons e pela hospitalidade de seus habitantes. É considerada por alguns autores, um dos lugares mais prazerosos do continente, mas para mim, é muito mais do que isso, é realmente a cidade mais linda que já conheci, um lugar quase perfeito.

Começamos visitando o “Palácio de La Inquisicion”, com um ingresso caro, de US$ 5, pois seu acervo é composto só por réplicas de instrumentos de tortura em apenas duas salas de exposição, mas a museografia é interessante e permite, através de ambientações bem feitas e textos, uma inserção do visitante nas práticas violentas e desumanas usadas para obter confissões de bruxos e infiéis. O prédio em si é bonito, construído em 1706. Saí agoniada lá de dentro, sentindo alfinetes debaixo das minhas unhas, torturada mesmo, mas foi muito importante para mim, gostei de fazer a visita.

Dali, seguimos para o “Museo del Oro”, esse sim, maravilhoso, uma museografia impecável e um acervo encantador, com belíssimas peças de ouro e um pouco de cerâmica, tudo da cultura Zenú, que se desenvolveu na região. O museu faz parte do Museu do Ouro de Bogotá, é uma versão regionalizada. A entrada é gratuita, pertence ao “Banco de la República” e possui um aparato de segurança impressionante. É moderno, muito didático e lindo, não dá vontade de sair lá de dentro, quando terminei a visita, voltei para ver cada peça que tinha me impressionado, fotografei muito lá dentro, saí ainda meio não acreditando no que havia visto. Em seguida, fomos almoçar em um restaurante bem nativo, valeu para entrar totalmente no clima!

Agora era hora das inevitáveis lojas, começamos por uma refinada casa de artesanatos chamada “Galeria Cano”, com peças caras e bonitas, de um artesanato diferenciado e uns textos bastante interessantes sobre a exploração de esmeraldas na Colômbia. E por falar nisso, as famosas esmeraldas daqui, têm uma cor e uma transparência que nenhuma do mundo se iguala, aliás, são consideradas as melhores. Mas são muito, muito caras, tive a ilusão que voltaria cheia delas para a minha coleção de minerais, porém, nas inúmeras lojas que visitei, um cascalho feio, custava no mínimo US$ 50, e um cristal perfeito e maravilhoso, custava US$ 4.000. Sem chance! Talvez se tivesse a oportunidade de conhecer as minas e comprar direto dos esmeraldeiros, conseguiria algum exemplar com um preço justo, mas não teria tempo para isso. Porém, uma coisa trouxe comigo, a lembrança daquelas cores, essas ficarão na minha mente como referência, padrão de qualidade e perfeição.

Durante a tarde, percorremos todo o centro histórico a pé e visitamos várias atrações, como: os conventos de Santa Clara e Santa Teresa, a casa de Gabriel García Márquez, “Plaza Bolívar”, Catedral, Plaza Aduana, Iglesia de San Pedro e finalizando com a “Plaza de San Domingo”, onde há diversos bares, com mesas ao ar livre, para se tomar uma boa cerveja colombiana, de frente para um bela escultura de Botero, desfrutando de várias manifestações artísticas populares e se deixando envolver por esse clima do crepúsculo caribenho. Merecido relaxamento!

Voltamos de ônibus e saímos à noite no bairro do hotel – Bocagrande, para jantar e conhecer o comércio. É um lugar muito bonito, moderno e com lojas de grandes grifes internacionais. A Colômbia, do que vi até agora, tem muita influência americana, é moderna, tem um bom padrão de consumo e tem muito dinheiro circulando, é um país que está bem. Vêem-se pouquíssimos índios, muitos negros e a miscigenação aqui é grande. De volta ao hotel, reservamos o nosso passeio de amanhã.

Hoje fez um calor infernal, algo inexplicável, parece que estamos diante de uma fogueira, não sei como tive tanta energia, porque detesto calor, chegava a ficar sufocada! Esse talvez seja o único defeito de Cartagena. Fez sol na maior parte do dia e choveu um pouco na hora do almoço, mas muito pouco.

Foi um ótimo e produtivo dia!

08 DE JUNHO – CARTAGENA

Pela manhã, saímos para o passeio “Islas del Rosario”. A van nos pegou no hotel e nos levou até o porto, onde nos esperava uma lancha para uma deliciosa viagem de uma hora, em alta velocidade, até o destino, o passeio já valeria só pelo trajeto de lancha, que me proporcionou um momento ímpar de reflexão e relaxamento, há muito tempo não fazia algo tão prazeroso, fiquei ali num silêncio interior absoluto, o vento batendo no meu rosto, o barulho da lancha na água, o azul do caribe e a certeza de que um momento daqueles, é um privilégio. No caminho, passamos por fortificações e diversas ilhas, chegando ao Arquipélago de Rosário, um parque marinho com belas formações de corais, onde já pudemos ver a impressionante transparência das águas. Fomos direto a um passeio opcional, de mergulho com “snorkel”, nos arrecifes de corais, uma experiência linda! Os corais, em um tom de verde a amarelado, com milhares de peixes muito coloridos e de tamanhos variados, surgindo de cada fresta, numa água extremamente transparente e clara que nos dá a impressão de que estamos sobrevoando aquele universo de cores e formas, e os peixes, não se incomodam com a nossa presença, permitindo que nos aproximemos bastante. Adorei, achei maravilhoso! Ainda bem que levei meu próprio “snorkel”, pois o que todos usam para desembaçar a máscara é saliva, fora o respirador que fica cravado na boca das pessoas, imagina se isso pode ser coletivo!

Depois do mergulho, retornamos para a “Isla Naranja”, nosso ponto de apoio, para aproveitar a praia e almoçar. A praia, é pequena, linda e deliciosa, com areia fina e branca que não gruda na pele, e águas extremamente transparentes, mornas, sem ondas e de uma cor belíssima, que vai do azul ao verde, algo que enche os olhos e leva o espírito para longe da realidade. Todos ficam deitados dentro d’água, tomando cerveja e conversando, com a sensação que não existe nada além daquele lugar e que, aquele momento não vai acabar nunca. É um lugar para esquecer todos os problemas e se energizar com a força da natureza que penetra em nossos poros. Ali nadei muito e me entreguei totalmente ao calor do caribe, e enquanto estava na água, entregue aos meus pensamentos, algo inusitado: um cardume de peixes se aproximou, nadando ao meu redor e dando pequenas mordidinhas, ficaram muitos minutos ao meu redor, cheguei a tocar neles sem que se assustassem, foi muito gostoso! Chegada a hora do almoço, fomos saborear um cardápio bem típico, com o famoso arroz de coco, peixe frito, plátano frito (banana), mandioca frita e salada. Uma coisa que o Nelson, aquele colombiano do avião, havia falado é que a banana frita é obrigatória em qualquer refeição colombiana, se nos deparássemos com um prato sem bananas, poderíamos saber que estávamos sendo enganadas. Brincadeiras à parte, é realmente muito comum, só que é uma banana muito diferente das nossas, é preparada verde e não tem nenhum sabor adocicado. Outra característica da culinária colombiana, é que comem muita fritura e muito amido, tudo temperado com muito sal e pouca ou nenhuma pimenta. Às 16:30 h, retornamos e mais uma vez a volta de lancha foi tudo de bom. Um passeio imperdível!

À noite andamos de coche, meio de transporte muito comum para turistas, e tomamos um lanche. Foi um ótimo dia, daqueles de recarregar as baterias!

A Colômbia parece ter uma magia que nos envolve totalmente, pessoas são simpáticas, educadas, receptivas e amam o Brasil e os brasileiros. O ambiente é calmo e nos dá a idéia de muita segurança. Parece incrível, mas é totalmente contrário à idéia que nos vendem da Colômbia, tudo aqui funciona bem e a cidade é muito limpa e moderna. O trânsito é bastante caótico e todos buzinam sem parar. Os colombianos priorizam mais o transporte coletivo e os taxis, que são baratos, bons e novos. Já os carros, apesar de em menor número, são novos e de modelos que vão do popular ao arrojado.

A preocupação com o patrimônio histórico é algo que salta aos olhos por aqui, o conjunto arquitetônico e os museus são bem preservados, com um tratamento muito sério e científico, a cidade exala história, cultura e respeito ao passado. Outro detalhe: é um país extremamente musical, ouve-se música colombiana a todo tempo e em qualquer lugar, o que confere uma atmosfera de alegria muito grande.

09 DE JUNHO – CARTAGENA

Pela manhã, saímos para o passeio no Vulcão Totumo, distante, de ônibus, mais ou menos uma hora, em uma ótima estrada. Chegamos em um lugar primitivo e um pouco desanimador, pois de bonito não tem nada. Trata-se de um pequeno vulcão de lama, que tem “uma estrutura cônica de lama argilosa depositada junto a um orifício de escape de metano, gases não combustíveis, vapor de água e de lama com água salgada”. Formação rara no mundo, é presente em regiões sísmicas. Perto, há um respirador que formará outro vulcão idêntico no futuro. O já existente, tem aproximadamente 15 metros de altura e subimos até sua cratera, em uma precária escada. Lá em cima, a cratera tem aproximadamente quatro por quatro metros, com uma espessa e escura lama, onde todo o grupo entra e fica se acotovelando, porque é muito pequeno para o número de pessoas. Subimos com roupa de banho e só carregando a máquina fotográfica. Lá, um nativo recolhe as máquinas, para nos fotografar. Dá dúvida se devemos ou não entrar, ficamos imóveis por um tempo e com os olhos arregalados, depois de um acesso de risos, de desespero, é lógico, pensei: quem está na chuva é para se molhar, então entrei no lodaçal! Lá dentro, ficam três homens que nos ajudam a entrar, espalham a lama pelo nosso corpo e nos fazem massagem. No início, todos ficam assustados, mas depois, é muito bom e relaxante, a lama, em temperatura ambiente, ou seja, quente, porque nesta terra faz muito calor, é tão densa que fica difícil de afundar, estamos sempre boiando, se locomover dentro dela é quase impossível, os rapazes nos ajudam e a massagem é muito boa. A situação é engraçada, mas com o tempo, a gente acaba se acostumando, adorando e não quer sair lá de dentro, principalmente depois que descobre que a lama não é parada, que é corrente, pois a produção é permanente e vemos o movimento dela saindo pelas bordas da cratera. O rapaz das máquinas nos fotografa o tempo todo, e com mais de vinte máquinas na mão, não erra uma foto, e bem tiradas, ele tem domínio das câmeras. A lama é medicinal e com cheiro de enxofre, ficamos ali por um bom tempo. Quando saímos, fomos para um local tipo um mangue, para lavar a lama do corpo, lá tem umas mulheres que nos lavam dos pés à cabeça, um banho demorado, até desgarrar toda a lama, ali sim tive nojo, uma água barrenta e duvidosa, me senti imunda depois que saí dela! Todo o serviço é rudimentar, mas organizado, há uma divisão de trabalho que funciona! Todas as pessoas ali, trabalham por gorjeta, não está incluído no valor do passeio, e apesar de rudimentar, tudo é muito bem organizado e profissional, um trabalho familiar, chega ao requinte de um menino de uns cinco anos, ficar às margens do mangue, com uma pequena vasilha com água, só para lavar nossos pés, não sabia se ria ou se chorava com aquela situação! Acho que foi o passeio mais exótico e diferente que já fiz até hoje, só mesmo a América do Sul com possibilidades tão inusitadas! Dali, seguimos para o almoço em uma vila de pescadores, uma praia também muito primitiva, com comida típica. Foi mesmo um ótimo passeio, muito relaxante e divertido, coisas assim, nos tiram tanto da nossa realidade, que somos outras pessoas depois que saímos de lá. O ônibus da agência ainda foi levar todos os outros turistas antes de nós, o que nos possibilitou um “city-tour” interessante por uma parte da cidade que ainda não conhecíamos.

Depois de um banho em que não parava de sair lama do corpo e principalmente do cabelo, fomos para o maior “shopping” da cidade, o “La Castellana”, com uma proposta arquitetônica interessante, mas muito popular, sem nenhum atrativo especial ou requinte nas lojas. Voltamos para o bairro do hotel e fomos comer uma pizza.

Pela manhã de hoje, antes do passeio, fui confirmar meu vôo, em uma agência de turismo qualquer, e lá deixei minha carteira, com dinheiro, cartão de crédito e documentos. Quando me dei conta, já estava dentro do ônibus, a caminho do vulcão. Mas para minha surpresa, imediatamente, a atendente da agência já havia me localizado, dentro do ônibus, no celular da guia da nossa excursão, me avisando do esquecimento, inacreditável! Então, o motorista do ônibus prontamente me levou até a porta da agência e lá recuperei minha carteira intacta, o que a atendente fez questão de ressaltar, o que eu acatei com o maior reconhecimento e gratidão.

Toda essa situação me fez meditar muitas coisas, no ônibus, a caminho do vulcão. Como os colombianos são gentis, honestos e receptivos e também, como eles veneram os brasileiros, tenho me sentido amparada e cuidada a todo o momento pelas pessoas daqui, isso dá uma sensação de segurança muito boa! É incrível como os colombianos, assim como todos os sul-americanos, têm um respeito e admiração imensos pelo Brasil e pelos brasileiros, e é uma pena que a recíproca não seja verdadeira, pois os brasileiros não sabem valorizar e respeitar seu irmãos de continente, sempre se julgando superiores e considerando nossos vizinhos, pobres, atrasados e delinqüentes, o que é um engano lamentável. Os hispano-americanos, são educados, honestos e respeitosos, como os brasileiros em sua maioria, jamais conseguiram ser. A realidade desses países, em nada difere da do Brasil, sendo até melhor em muitos aspectos. Não podemos perder nunca de vista a necessidade da nossa união.

10 DE JUNHO – CARTAGENA

Pela manhã, fomos a um balneário popular que se chama “La Boquilla”, um lugar sem explicação de tão feio, só viável para se fazer uma leitura crítica e conhecer as entranhas do país, não dá para olhar com outros olhos, senão desespera, de tão fora dos padrões, programa extremamente popular. Li nos guias, que a comida por aqui é da melhor qualidade, realmente, há incontáveis restaurantes de beirada de praia, prepara-se a comida ali na areia mesmo. Mas não tive coragem de constatar a qualidade gastronômica do local! Mas gostei de ter ido, eu e Salete rimos bastante da situação e ficamos um pouco incomodadas com o assédio de vendedores e massagistas, nada desrespeitoso não, mas insistente. Não conseguimos ficar muito tempo. Mas valeu muito o passeio, acho importantíssimo conhecer todas as faces dos locais que visito, especialmente os ambientes exclusivamente de gente da terra.

À tarde, fomos ao monumental “Castelo de San Felipe de Barajas”, patrimônio da humanidade, tombado pela UNESCO, trata-se de um forte de 1657, grandioso e a maior obra da engenharia militar do continente americano, construída para complementar as muralhas, com o objetivo de proteger a rica Cartagena das invasões por terra. Olhando a monumentalidade das muralhas e do conjunto de fortes, podemos imaginar a freqüência e a intensidade dos ataques que se davam ali. Esse forte em especial, tem uma belíssima localização, no alto da colina de “San Lázaro”, dali se tem lindas vistas da cidade, das muralhas e da bahia, uma vista de 360° que encanta. Tem uma arquitetura complexa, com vários túneis de interligação, torres, aposentos e uma plasticidade que transborda em suas formas, volumes, texturas, luzes e sombras. Eu adoro fortes, não pela função militar, nem me interesso muito pela utilização original do espaço, mas sim pela arquitetura em si e pela localização que é sempre privilegiada, sempre são belas formas e contornos emoldurados por cenários de água e por vistas de tirar o fôlego. E esse foi o mais lindo que já visitei! Por lá vimos o início do entardecer e a beleza da luz é sem comentários.

Em seguida, voltamos para o centro histórico para ver algumas coisas que faltavam e fotografar mais um pouco. Por lá, chegamos no final do entardecer e tivemos a oportunidade de presenciar o pôr-do-sol de cima das muralhas, vendo de um lado a luz do sol, emprestando um amarelo ao Caribe, e de outro, as luzes da cidade histórica se acendendo e valorizando, também em tons amarelos, os contornos da arquitetura. Foi lindo, um show!!! Conhecemos a Igreja de “San Turibio”, achei a mais bonita de todas, com paredes brancas e um altar barroco muito bonito, e olha que custo a gostar de uma igreja! Outro espetáculo é a cidade à noite, oportunidade que agradecia a todo o momento de estar vivenciando. Cartagena é muito mais bonita à noite que durante o dia, a iluminação é belíssima, valoriza muito a arquitetura e a atmosfera fica ainda mais interessante, tudo fica com um toque mais refinado, cessa o movimento de centro de cidade e um comércio de qualidade e restaurantes refinados se sobressaem, é a hora dos viajantes se embriagarem com tudo que a cidade pode oferecer! Ficamos caminhando em estado de graça, quase sem palavras diante daquela beleza.

Até o momento, temos pegado tempo bom, choveu um pouco e rápido no dia que chegamos, mas nada que tenha atrapalhado e choveu bastante para amanhecer hoje. Porém, o calor aqui é escaldante, parece que estamos na frente de uma fogueira e à noite, não refresca nada. Os bons lugares têm ar condicionado gelado e quando entramos, mudamos radicalmente de temperatura, ficamos o dia inteiro expostas a esse choque térmico, há que ter muita saúde para agüentar, mas eu tenho, o que eu não tenho é satisfação em sentir calor.

11 DE JUNHO – CARTAGENA

Hoje, levantamos com o coração partido, pois é nosso último dia em Cartagena de Indias. Resolvemos, por sugestão da Salete, repetir o passeio às “Islas del Rosário”, pois gostamos muito e conseguimos atingir um nível de satisfação e relaxamento nesse passeio, quase inexplicável e um bis é o que poderíamos fazer de melhor na nossa despedida. Fez um dia maravilhoso e foi muito bom, fiquei naquela praia paradisíaca o dia inteiro, nadei horas a fio e pude refletir bastante sobre a minha vida, me fez bem demais! Lá, ficamos conhecendo um casal de argentinos que mora em Medellín, ele, é jogador de futebol e se chama Eduardo, e ela, Brenda. Conversamos muito sobre viagens pela América do Sul e ela nos deu umas dicas interessantes sobre a Venezuela, uma das minhas opções de roteiro para o ano que vem. Esses conhecimentos que fazemos em viagem, são muito bons e prazerosos, dá até certa tristeza em saber que nunca mais vamos ver, porque geralmente, são pessoas com muitas afinidades, uma vez que estão fazendo a mesma opção de viagem e escolhendo os mesmos passeios e isso diz muito, principalmente em se tratando de viagens pouco convencionais como as que faço. Apesar desses contatos saírem totalmente de nossas vidas depois que retornamos para a nossa vida normal, alguns ficam registrados nos relatos e nos lembramos quando os relemos, outros, ficam em nossas lembranças para sempre, como aquele sueco que me mostrou Cartagena pela primeira vez, lá em Buenos Aires, outros ainda, conseguimos manter correspondência e alguns poucos, conseguimos construir uma amizade verdadeira, isso é uma das maiores conquistas para um viajante e eu tenho algumas delas...

À noite, fomos saborear, perto do hotel, uma “arepa”, comida típica, que consiste em uma massa de fubá frita, no formato de um pão árabe, que pode vir recheada com carnes, queijo, vegetais ou doces. É uma boa opção de lanche, mas não excepcional. O calor hoje castigou, é um dos poucos defeitos daqui, além dos ambulantes que não nos dão paz!

É, infelizmente temos que partir amanhã, essa cidade é maravilhosa e apaixonante, estou triste de deixá-la. Tudo aqui me encantou: a arquitetura, a história, as pessoas, o Museu do Ouro, a tranqüilidade, a natureza, enfim, é um lugar que irá se tornar um ícone na minha memória e nas minhas narrativas de viagem. Só a infra-estrutura turística da Colômbia não é das melhores, é como a do Brasil. Países como Bolívia, Peru, Argentina e Chile estão muito mais organizados nesse sentido, oferecendo mais serviços aos turistas. Talvez pela Colômbia ser um lugar que sofre com sua imagem negativa internacionalmente, fazendo com que só turistas corajosos optem pelo país, o que leva a um pequeno fluxo, que acaba não justificando ou motivando uma maior capacitação do país nesse sentido. Parece que o que mais movimenta o setor é o turismo feito pelos próprios colombianos, porém, todos os pontos de interesse são impecáveis na conservação e o investimento neles é alto. Os serviços como agências de turismo, mapas, folhetos de divulgação, transportes para os atrativos e informações turísticas é que não satisfazem.

12 DE JUNHO – CARTAGENA/BOGOTÁ

Fomos para o aeroporto bem cedo e conseguimos pegar o vôo anterior ao nosso, às 08:30 h, o que nos fez ganhar mais um tempo em nosso destino. Voamos mais ou menos uma hora e chegamos em Bogotá com uma temperatura muito agradável e sol. Uma pena que mais uma vez não tenhamos conseguido ver a “Sierra Nevada”, que está entre as duas cidades, o Dalton havia me falado que é lindo sobrevoá-la. Na ida, o vôo atrasou e passamos por ela à noite e hoje, estava com nebulosidade, mas paciência, nem tudo é perfeito, e não é um detalhe que vai atrapalhar nossa viagem, que até o momento está ótima e superando todas as minhas expectativas!

Não consegui muitas indicações de hotel para Bogotá, dentro do que poderíamos pagar, só os do “Guia do viajante independente”, então, o motorista do taxi, vendo a nossa insegurança quanto à localização do mesmo, que parecia não ser das melhores, nos indicou outro, que segundo ele, seria mais bem localizado. Como não tínhamos outra opção, e sempre me sinto muito iluminada e protegida quando viajo, além de pouco ingênua e bastante intuitiva em relação às pessoas, achei que deveria confiar, troquei uma idéia com a Salete e achamos que era melhor aceitar a sugestão do taxista. Então, chegamos ao “Hotel el Virrey”, fica no centro histórico, que dizem não ser bom à noite, mas o hotel é seguro, grande, tem o conforto necessário, é limpo, bem acabado, tem restaurante, o preço é aceitável e está perto de tudo que temos mais interesse em visitar, e quando sairmos à noite, voltaremos de taxi, isso não é problema. Os hotéis que optamos até agora, têm padrão dos três estrelas do Brasil, mas são bem mais caros.

Acomodamo-nos e saímos para começar nossa programação o quanto antes, pois sabemos que essa cidade tem infinitas opções a nos oferecer, e tempo aqui é essencial. Começamos almoçando uma comida popular perto do hotel, em seguida, passamos pela Igreja da Ordem Terceira, muito diferente das nossas, toda decorada em madeira escura, ricamente entalhada, sem pintura e monocromática, inclusive o altar, linda! Em seguida, na mesma quadra, está a “Iglesia de San Francisco”, simplesmente maravilhosa, de ficar de boca aberta, nunca vi nada igual, toda decorada em ouro, sendo o altar, o maior que já vi, e o teto, em madeira decorada, belíssimo. Trata-se da igreja mais antiga da cidade, da metade do século XVI, e o altar é de 1622. Fantástica! As igrejas que ando vendo por aqui, são muito bonitas, mais do que as da minha terra, Minas Gerais, porque o espanhol transmitiu uma monumentalidade à arquitetura hispano-americana que o português não imprimiu na brasileira, talvez pela própria arte portuguesa, que apesar da grande importância e riqueza, ter um estilo mais acanhado em relação às proporções e menos refinado nos acabamentos. Em geral, as igrejas não me atraem tanto, mas quando têm uma estética que me agrada, e principalmente, quando conseguem cumprir a sua função de elevar o espírito a partir de sua proposta arquitetônica, com altos arcos, luzes, sombras, sons ou silêncio, elas me calam profundamente e me transportam para uma sintonia de reflexão e comunicação com o plano superior, essa é uma sensação muito boa e tenho vontade de passar horas, sentada em seus bancos, passando a minha existência a limpo. E por aqui isso tem ocorrido em todas as igrejas que entro, porque elas são particularmente lindas, e mais um detalhe, lotadas de fiéis, em qualquer hora de qualquer dia, a fé das pessoas aqui é impressionante.

Dali, seguimos para o “Museo del Oro”, outro lugar sem comentários! Maravilhoso também! Museografia perfeita, com uma exposição minimalista, de muito bom gosto, com um projeto luminotécnico impecável, textos ótimos, linhas do tempo, mapas, projeções, músicas, ambientações e naturalmente um acervo literalmente ofuscante. Trata-se do maior museu de ouro do mundo, com 33.000 peças em ouro, além cerâmicas e têxteis. Os objetos em ourivesaria mais antigos, datam de séculos a.C., e toda exposição é separada por culturas que se desenvolveram em todo o país, mas com uma abordagem bastante contemporânea e didática. As culturas que se desenvolveram no território colombiano há milhares de anos, se destacaram pelo talento em trabalhar o ouro – abundante em suas terras. Dotando-o de um valor mítico e religioso, produziram adornos e objetos utilitários e ritualísticos. Séculos de produção resultaram em um volume de peças que nem o saque devastador dos europeus desde a ocupação, nem os contrabandistas de patrimônio arqueológico dos tempos atuais, conseguiu dizimar, levando o país a manter ainda, um acervo fabuloso e esse magnífico museu, com acervo em outras cidades como Cartagena, além de Bogotá. Ele impressiona, não só pelo brilho do ouro, mas pela inserção do visitante neste universo de sensibilidade, conhecimento, técnica, arte, devoção e poder materializado através desse metal que também foi o motivo da destruição de muitas dessas culturas ali representadas. A última sala do circuito expositivo é a “Sala das Oferendas”, que é de chorar de emoção! Uma grande sala circular, com uma vitrine em 360° e outra no chão, repletas de ouro pendurado,dando a idéia de flutuação, sendo as paredes e chão da sala, negros. Mas quando entramos, através de uma porta eletrônica, não vemos nada, pois a escuridão é total, então a porta se fecha e começa um som ritualístico indígena belíssimo que nos invade totalmente e um jogo misterioso de luzes, que vai mostrando aos poucos, com efeitos lindos, todas as vitrines ao nosso redor e no chão, conferindo ao conjunto, uma tridimensionalidade que permite que desvendemos, com nossa mente, cada segredo e toda a magia daquelas milenares e místicas peças. Algo impressionante! Depois de alguns minutos, as luzes vão lentamente se extinguindo, as vozes da música vão perdendo força, a escuridão toma conta novamente e a porta se abre. Só que não tive vontade de sair, pedi que repetissem a apresentação para mim, o que foi feito, e dessa vez, só eu e Salete dentro da sala. Magnífico! Na saída do circuito, tem uma ótima loja do museu e um café muito bonito no térreo. Programa de primeira qualidade! Tenho pena de quem pensa que América do Sul não tem nada ou que a Colômbia é só narcotráfico e guerrilha!

Andamos mais um pouco pelo centro, que não achei muito bonito, pelo menos no pequeno trecho que percorremos, só são bonitos os prédios históricos. Fomos a algumas lojas de artesanatos, onde não vi nada de muito especial, além de preços nada convidativos. Assim como em Cartagena, as esmeraldas são muito caras, não dá para pensar em comprar, digo isso em relação aos bons exemplares. Voltamos para o hotel, onde tomamos um lanche. Um dia que encheu os olhos e fez a emoção brotar em cada poro.

Essa receptiva metrópole de 7 milhões e meio de habitantes e a quase 3.000m de altitude, em plena Cordilheira dos Andes, não tem nada a ver com o cenário de terrorismo e narcotráfico que a imprensa divulga, muito pelo contrário, é uma cidade calma, policiada, limpa e organizada. Possui uma vida cultural intensa e todo o tempo será pouco para esgotar seus atrativos, em sua maioria, localizados na Candelária, um suntuoso centro histórico. E paralelo ao bucolismo desse centro colonial, existe uma cidade moderna, rica, com grandes shoppings e ótimos cafés. O povo de Bogotá é totalmente diferente do de Cartagena, não há quase nenhum negro, o traço indígena já é mais presente, apesar de ser miscigenado, e uma curiosidade: os homens em sua maioria, são de estatura muito baixa, só se vê baixinhos por aqui! À primeira vista, me pareceu um povo igualmente gentil e amistoso.

13 DE JUNHO – BOGOTÁ

Hoje saímos cedo, fomos primeiramente comprar mapa da cidade, que foi um sufoco para encontrar, e procurar uma agência da Avianca, para confirmar nosso vôo de volta. Passamos novamente pela Igreja São Francisco e depois fomos para a Candelária, a parte mais histórica do centro. Lá, começamos pela “Plaza Bolívar”, uma linda praça, que data da época da fundação de Bogotá em 1538, e onde se localizam prédios do governo como congresso, senado, ministérios, além da imponente Catedral, com uma fachada monumental, emoldurada pela Cordilheira dos Andes ao fundo - que ao leste, corta toda a cidade, de norte a sul. Na Catedral, fomos brindadas com um “show” de um organista que parecia estar ensaiando, e ficou por um bom tempo tocando umas músicas barrocas maravilhosas ao órgão, não preciso nem falar o que isso significou para mim! Ao lado, entramos na “Capilla del Sagrario”, muito bonita e simples, com uma decoração leve e um órgão que nunca vi algo tão lindo, gostaria de ouvir seu som, mas missa com música aqui, é só no domingo, quando já estaremos a caminho de casa, e me deparar com outro organista ensaiando seria sorte demais, não vou exigir tanto da minha boa estrela em viagens! Ainda na praça, havia uma manifestação política se iniciando, em fase de concentração, com muitas faixas que falavam em presos políticos extraditados para os Estados Unidos, pois o congresso estaria votando algo relacionado hoje. Adoro essas coisas, não pensei duas vezes e fui até lá para me informar melhor sobre o movimento, em princípio, as pessoas acharam que eu era americana e não quiseram conversa, chamando o líder do movimento para resolver o problema, então expliquei a ele que não era americana e sim brasileira e que tinha curiosidade sobre os motivos da luta deles, e isso foi o máximo para ele, começou a falar que não parava mais, só faltou me dar um megafone para eu gritar palavras de ordem! Ele me contou que o governo colombiano entrega todos os seus presos aos Estados Unidos, onde somem, possivelmente exterminados, e que isso acontece sem julgamento e até com crianças. Impressionante isso, mas não quis me envolver demais porque sou uma estrangeira, em um país de linha dura, não estou aqui para militância política, só a informação já foi o bastante e segui meu roteiro turístico pela região. Mas quando terminamos o almoço, daí a algumas horas, o movimento já havia engrossado e milhares de pessoas já fechavam as principais ruas do centro, e à noite, no noticiário, ouvi que deu confusão e agressões físicas, sendo que o congresso nem votou a tal matéria, pois as FARC ainda seriam escutadas sobre o assunto.

Dali, seguimos para a “Biblioteca Luís Angel Arango”, que pertence ao “Banco de La Republica”, considerada uma das maiores e mais bem organizadas bibliotecas de obras raras da América do sul. Fica em um prédio com muita estrutura, todo informatizado e com muita segurança. Conta com salas de leitura, ambientes interativos, auditórios, galerias de arte, locais para exposições temporárias e as reservas técnicas, tudo com um fluxo de visitantes enorme. Visitamos uma exposição de dicionários e gostei bastante, porque adoro obras de referência. Tentamos visitar também o setor de obras raras, mas a segurança é algo impressionante e o acesso é restrito a pesquisadores com projetos previamente analisados e autorizados pela direção. Por mais que argumentássemos , por telefone, porque não cruzamos nem o corredor de acesso, com a responsável pelo setor, sobre a nossa área de atuação e a importância de tal visita para nós, não fomos autorizadas para tal, o que é uma pena. Mas serve de exemplo de como devemos ser muito mais rigorosos com o acesso às nossas reservas técnicas no Brasil, que tanto tem sofrido com os roubos de bens culturais.

Ainda antes do almoço, fomos para o “Museo Botero”, que pertence também ao “Banco de la Republica” e reúne além de Botero, Picasso, Monet, Chagall, Dali, Renoir, Degas, Miró, Matisse, dentre outros. É bem montado e com uma museografia limpa, que permite uma concentração integral do visitante nas obras, acho que é uma proposta só de fruição mesmo, mas com isso, faltam textos sobre Botero e sua obra, esse artista colombiano, nascido em Medellín e de projeção internacional. A análise e interpretação ficam mesmo por conta do visitante, que pode transcender o que está retratado ou apenas se deleitar em seu universo de formas e cores. A obra de Botero, predominantemente de pinturas e esculturas, apesar de só retratar gordos, tem uma leveza e uma sensualidade imensas e a voluptuosidade das formas, não está só nas pessoas, mas também nos animais, nos objetos e em tudo que está representado; apesar dos retratados estarem sempre sérios, a alegria das obras é contagiante, com muitas cores e cenas geralmente com uma atmosfera infantil e interiorana. As naturezas mortas e animais estão sempre presentes, além de algumas cenas eróticas, é tudo muito lindo e divertido. A visita ao museu chega a descansar nossa cabeça, valeu muito!

Almoçamos e voltamos ao “Museo Botero”, que é geminado com a Casa da Moeda, a qual visitei rapidamente, só corri os olhos, não me pareceu um acervo representativo e não conseguiu despertar meu interesse, por isso, não dá para fazer comentários. De lá, pegamos um Transmilênio – uma linha expressa de ônibus, que corta toda a cidade, como se fosse um metrô de superfície, o que torna os deslocamentos na enorme Bogotá, mais rápidos, eficientes e baratos, porém, eles andam sempre lotados, inacreditável a quantidade de pessoas! Fomos para o Shopping Andino, um dos mais famosos daqui, realmente é bom, com boas lojas, grifes internacionais, mas pequeno e sem grandes atrativos. Localizado na Zona Rosa, que é a região mais requintada da cidade e fica ao norte, onde se concentra o comércio de elite. Aproveitamos e fomos também aos Shoppings Retiro e Atlantis, menores que o primeiro. Ficamos por lá à noite e voltamos para o hotel.

Foi um dia agradável e muito produtivo, andamos sem parar, por doze horas, e isso a quase 3.000 m de altitude! O centro de Bogotá realmente não é dos mais bonitos, porém, a parte histórica, a Candelária, é muito bonita e imponente, chega a ser suntuosa, e muitos prédios estão em restauração, dá para se notar o investimento do país em patrimônio, aliás, do que sei, na América do Sul, a Colômbia faz escola na área de restauração. Tudo é muito limpo, não se vê lixo pelas ruas, que às vezes chegam a brilhar! Outra coisa que surpreende é o aparato policial em todo o centro, cheguei a ver e fotografar esquinas com doze policiais fortemente armados e com escudos, por todos os lados que olhamos está cheio deles, e são muito simpáticos e gentis com os turistas. E outro detalhe do aparato de segurança, nossas bolsas são revistadas a qualquer momento e em qualquer lugar, em todos os lugares que entramos, até nos shoppings.

Bogotá definitivamente não é uma cidade voltada para o turismo, não há mapas, não há passeios organizados por agências, ninguém sabe informar nada, não há postos de informação turística ou qualquer suporte do tipo, só mesmo a receptividade, boa vontade e o calor do povo. Sem falar que a cidade é dificílima para entender e se locomover, pelo menos para a nossa lógica de organização urbana. As ruas não têm nome e sim números e os endereços contêm o número da rua, da outra rua que corta naquela altura, o que identifica a quadra, e o número de passos que você tem que dar em sentido crescente da rua, sem falar que as ruas que cortam a cidade de norte a sul, são chamadas “carreras” e as que cortam de leste a oeste, são chamadas de “calles”, e ainda tem as “avenidas”, isso quando não aparece uma transversal para confundir um pouco mais! Para ter idéia, o endereço do nosso hotel é “Calle 18, nº 5-56”, traduzindo, a Calle 18 é imensa e temos que saber qual a “carrera” que corta a mesma na altura do hotel, no caso a 5, e ele está a 56 passos rumo à 6. Nossa! Deu para entender? Temos quase que montar uma planilha para achar um ponto de interesse, e sempre saber para qual ponto cardeal estamos olhando, ainda bem que a Cordilheira do Andes está sempre a leste, esse é o maior referencial. Ah! E tem mais uma coisa, nem todas as ruas têm placa. Só depois de dias é que começamos a nos acostumar!

14 DE JUNHO – BOGOTÁ

Pela manhã, fomos à Catedral de Sal, que fica no município de Zipaquira, distante de Bogotá uma hora e meia, de ônibus. Para tal, pegamos um Transmilênio até o Portal Norte, e depois um micro-ônibus para Zipaquira. A Catedral é feita em uma antiga mina de sal do século XVIII, subterrânea, adaptada em 1995, para ser catedral. Há 14 passagens e a catedral propriamente dita, tudo ambientado em longas e escuras galerias de sal, com tonalidade negra, com muitas cruzes, imagens, algumas luzes coloridas, onde cada passagem foi projetada por arquitetos diferentes e com linhas bem contemporâneas, e tudo isso tendo como pano de fundo um forte cheiro de enxofre. Para ser bem sincera, achei uma chatice, só fama, em tudo que pesquisei, informava ser um local imperdível, mas é o maior improviso que já vi, coisa para turista. Já não gosto de igreja convencional, imagina uma escura, subterrânea, com cheiro de enxofre, adaptada em um lugar de exploração e sofrimento de seres humanos! Pois bem sabemos o sofrimento a que eram e são expostos mineradores em qualquer parte do mundo. Isso não eleva o espírito de ninguém, o que em minha opinião, é o mínimo que uma igreja deve proporcionar. Não gostei da energia do lugar, achei literalmente trevoso. Gostei foi de Zipaquira, uma pequena cidade histórica, com belo casario e uma praça central muito bonita, valeu mais do que a Catedral. Na visita, conhecemos um uruguaio muito simpático, que também é apaixonado por viagens na América do Sul, trocamos algumas informações e perguntei muito sobre o Uruguai, país que adoro e há muitos anos não visito. Ainda em Zipaquira, almoçamos uma deliciosa comida em um restaurante bem regional.

Após o almoço, retornamos ao centro de Bogotá, e fomos para o “Museo de Trajes Regionais da Colômbia”, um museu pequeno, pertencente à Universidade, com uma abordagem contemporânea e uma museografia que não diz muita coisa, mas um museu organizado. A mim, não interessou muito, esperava outra coisa, porque os trajes são aqueles usados a partir da conquista espanhola, com forte influência européia – período e influência que não me atraem. Mas valeu a visita, porque os trajes são bonitos, bem conservados – e bem sei como é difícil a conservação de têxteis, e toda a exposição nos contextualiza bem e dá uma panorâmica das influências européia, africana e indígena, em cada região da Colômbia, que tem uma diversidade cultural muito grande. Dali, seguimos para o “Museo Arqueológico”, um museu igualmente pequeno, organizado e uma museografia que deixa a desejar, com textos bons, mas pouco atrativos na apresentação. Porém, o acervo é belíssimo, cerâmicas de todas as culturas colombianas, do período anterior à chegada dos espanhóis. Ali tem acervo para montar um mega museu, e não amontoar tudo em sete salas de exposição como está organizado atualmente. Fiquei encantada e acho que nunca sairão da minha mente, algumas peças que vi ali, e que me tocaram profundamente. Depois de uma visita assim, sempre me invade uma deliciosa sensação e a certeza que tenho um passado indígena e andino!

Ao final, fomos ao Shopping Unicentro, este sim é o maior de todos que fomos até agora, mas não tem muita diferença em termos de lojas não. Ficamos lá até as 21:30 h e na volta, nos aventuramos num ônibus até o centro, o que todos desaconselham, deu mais de uma hora de trajeto, e já no centro, resolvemos descer e pegar um taxi até o hotel, porque o ônibus não parava onde imaginávamos, ficamos um pouco inseguras, mas no final, deu tudo certo. Foi um dia cansativo, com algumas atrações que deixaram a desejar, mas foi produtivo e intenso. Valeu tudo que conhecemos!

15 DE JUNHO – BOGOTÁ

Na primeira hora, fomos ao “Museo Nacional”, um escândalo, maravilhoso, indescritível, enorme! Começamos a nossa visita às 09:00 h e terminamos às 15:30 h e não li todos os textos, é museu para se visitar por vários dias, se quiser ler todos os textos e ver tudo em detalhes. Começamos pela belíssima exposição temporária “Sipan: el último tesoro da América” com cerâmicas, peças em ouro e múmias da cultura Sipan, que se desenvolveu no altiplano peruano. Com uma museografia perfeita e de muito bom gosto, é tão envolvente, que não dá vontade de sair da sala. Em seguida, passamos à exposição permanente, distribuída em três andares de um belo e enorme prédio, em forma de cruz, que foi a cadeia de Bogotá. A mostra começa com as culturas pré-colombianas, um “show”, com um imenso e rico acervo de cerâmicas. Depois, passa-se ao contato com os europeus, emocionante, forte, de chorar de emoção, com uma abordagem contra a Europa, evidenciando todo o conflito do contato dos dois mundos, com uma visão bastante interessante. A partir daí, o circuito é bastante cronológico da história da Colômbia, com um enfoque predominantemente político, com a arte como pano de fundo e ao final, já na metade do século XX, a exposição foca mais especificamente a arte no país. Um eclético acervo, com muitos retratos, e em uma visita detalhada, dá para sair com um bom panorama da história e da arte colombiana. É lógico que um acervo desses, dava para fazer uma exposição menos conservadora e mais criativa, mas dentro dessa proposta linear da história a que optaram, a museografia é às vezes cansativa, mas bem trabalhada, com recursos multimeios, alguma interatividade, um projeto luminotécnico correto, muito bom gosto e um cuidado impecável com a conservação, a aparência e a segurança, uma verdadeira lição de administração de museu. Não dá vontade de sair, almoçamos no próprio museu, em um ótimo restaurante, e continuamos a visita. Destaque para exposição de Botero, que finaliza o circuito expositivo, ali tive muito mais informações e entendi muito mais a sua obra do que no próprio Museu Botero, não pela quantidade de obras, mas pela qualidade dos textos, que incluem análise de cada obra. Foi ótimo ver que todas as interpretações que tinha feito da obra dele, estavam corretas, só me escapou que a proposta de volume nas suas pinturas, busca uma impressão escultural. Saí modificada lá de dentro! Uma visita que ficará marcada para mim, nunca vi nada igual em riqueza de acervo, beleza e organização, esse foi talvez, o melhor museu que já visitei, imperdível!

Depois, seguimos para uma feira, que fomos informadas estar acontecendo em Bogotá, neste mês, é a “VII Feria de las Colônias”, trata-se de um evento que mostra todas as regiões da Colômbia, com exposições, shows, venda de artesanatos, produção industrial, costumes, gastronomia e manifestações culturais, tendo os próprios bogotanos como público alvo. Um mix de expositores e propostas, a mostra acontece em cinco pavilhões e é bem organizada. Foi um ótimo programa, tomamos contato com o povo local, conhecemos melhor a diversidade cultural do país, assistimos várias apresentações de música regional, que adoro, e vimos muitos índios bonitos. Até matei as saudades do altiplano, com tantos índios, ao som das zampoñas e cercados por seus artesanatos. Assistimos também à apresentação de um excelente grupo de música folclórica, composto por militares do Exército Nacional, que tocam pela paz, sem fins lucrativos e tivemos a oportunidade de conversar com eles depois do “show”. Ah! Eles se apresentam de farda e tudo, coisas de América do Sul! Aliás, a feira transborda latinidade, aqui pude sentir a essência da nossa América, felicidade a minha ter a oportunidade de viver um momento desses. Ficamos lá até acabar e ainda consegui comprar um belo CD de cordas colombianas.

Foi um dia maravilhoso, desses que fazem a gente se desligar totalmente e viver a plenitude do contato com o desconhecido, sem pensar em mais nada. Isso não tem preço! Agradeço cada momento que estou vivendo aqui, e estou cada dia mais apaixonada pela Colômbia!

Bogotá é um a cidade imensa, os nossos deslocamentos são demorados e complicados, sempre tendo que combinar vários tipos de meios de locomoção: caminhadas, Transmilênio, ônibus comum e taxi, mas sempre conseguimos chegar, o povo se empenha em nos ajudar. E por falar em ônibus, por aqui eles são uma atração à parte, considerados símbolos do país, são antigos em sua maioria e às vezes velhos mesmo, são coloridos e extremamente decorados em seu interior, com pingentes, quadros de santos, espelhos, franjas, estofamentos coloridos e adesivos nos vidros, o que dá a impressão que os motoristas se promovem com a aparência de seus veículos. Além da sobrecarga de informação visual, o gosto latino é reafirmado com um fundo musical sempre romântico e uma boa dose de desorganização no serviço, parando em qualquer lugar, com um trocador aos gritos, pendurado na porta para conseguir passageiros, uma buzina que não silencia nunca e manobras inacreditáveis.

Outro atrativo do país, e talvez a primeira coisa que me encantou por aqui é o povo, é difícil até de explicar, acho que nunca conseguirei ser precisa em minhas palavras para defini-lo. Os colombianos não têm nada daquela imagem negativa que a mídia criou para nós, não se vê malandros pelas ruas e todos parecem ter uma magia, uma sensualidade e uma musicalidade que nos envolve totalmente, as pessoas são simples, honestas, simpáticas, educadas e receptivas, o calor humano é intenso e todos são alegres e comunicativos, sem perder a delicadeza e a formalidade. Sempre que nos ouvem conversando, logo perguntam de onde somos, quando falamos que somos brasileiras, eles se mobilizam, se desmancham em simpatia e pedem para que falemos em português, eles adoram a nossa língua e muitos colombianos sabem falar e querem treinar. Só faltam adivinhar nossos pensamentos, me senti muito amparada por todos aqui.

De todos os países que conheço da América do Sul, a Colômbia é a que mais parece com o Brasil, em tudo, as realidades são muito próximas e o povo é muito parecido, não tem aquele conservadorismo dos outros países hispânicos. São modernos, antenados, tecnológicos, têm um padrão de consumo alto nas grandes cidades e a influência é bem americana.

16 E 17 DE JUNHO – BOGOTÁ/SÃO PAULO/JUIZ DE FORA

Pela manhã, fomos à “Quinta de Bolívar”, um museu casa, incipiente, mas bonitinho, vale pela arquitetura, que é interessante e é considerada representativa como arquitetura doméstica rural da Colômbia. Mas valeu também para entrar um pouco mais no universo de Simón Bolívar, a casa propicia isso, e ali tive oportunidade de conhecer uns detalhes da vida e da personalidade dele, que me tocaram e gostei bastante. Sem me considerar bolivarista, tem muitas coisas no pensamento dele que são pertinentes, principalmente se fizermos uma leitura dentro do contexto da época em que lutou pela liberdade e união do nosso continente.

Aproveitamos o restante do tempo livre para fazer algumas compras que faltavam. Andamos pelo centro e voltamos ao Shopping Andino, onde almoçamos. Voltamos ao hotel e fomos para o aeroporto às 17:30 h.

Em todos esses dias em Bogotá, pegamos um clima ameno e super agradável, com pouquíssima chuva e uma temperatura que permitia usar apenas um anorak – tipo de agasalho usado por praticantes de atividades ao ar livre, que protege contra vento, frio e umidade, mas é leve. Pelo que li, nessa época era para estar bem frio e bastante chuvoso, o que não aconteceu. Saio de Bogotá e da Colômbia com a enorme sensação que ainda tenho muito a fazer por aqui e uma vontade imensa de ficar, passamos dias maravilhosos por aqui.

Nosso vôo saiu às 21:00 h e chegamos em São Paulo por volta das 05:00 h, hora do Brasil. Só meu corpo aterrissou no Brasil, meu espírito e minha mente ficaram na Colômbia, assim que desci, me senti uma estrangeira no meu próprio país, e essa sensação duraria mais de um mês! Nesse período, só conseguia ouvir música colombiana, tomar café colombiano, falar sobre a Colômbia, ver as fotos e ficar mergulhada numa saudade imensa.

Já na ida, tinha me decidido que no retorno, não voltaria pelo Rio de Janeiro, pois a conexão seria imediata e não teria tempo para passar no “free shop”, e também porque não queria mais passar pelo desconforto dos atrasos de vôo, falta de teto, filas da ponte aérea etc., mesmo já tendo pago o vôo. Preferia ficar o tempo que tivesse vontade em São Paulo, depois seguir para a rodoviária e pegar um ônibus para Juiz de Fora, já havia avisado a Salete da minha decisão e ela voltaria sozinha pelo Rio de Janeiro. Porém, o Paulo, marido dela, resolveu nos buscar de carro em São Paulo, então, desembarcamos com calma, ficamos horas a fio no “free shop”, pegamos a estrada lá pelas 11:00 h, fizemos uma ótima viagem e chegamos em Juiz de Fora ao entardecer.

Ainda quero voltar muitas vezes à Colômbia!

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